"Há cerca de dez anos que a professora Maria da Conceição Marques, de 49 anos, tem lutado e vencido os cancros. Por isso, a sua maior angústia é ser vencida por uma Junta Médica que a deu apta para trabalhar e a mandou apresentar-se na EB1 da Regedoura, em Válega, Ovar, no próximo dia 20
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Vítima de cancro da mama, útero e língua, esta docente, de 49 anos, 29 dos quais ligados ao ensino, está «extremamente cansada, angustiada e com muito medo de regressar à escola e poder aterrorizar os alunos». Este cancro na língua é pior do que os outros, porque lhe provoca lesões frequentes, com derrames abundantes de sangue. «Imagino-me numa sala de aulas, a começar a sangrar em frente aos alunos, ou então deixar de conseguir falar, como já aconteceu. Vai ser um terror para as crianças», desabafa. Maria da Conceição Marques recorda quando tudo começou, há 10 anos, com um cancro da mama e, alguns meses depois, um no útero. Apesar dos tratamentos dolorosos, nunca faltou às aulas e quando teve de ser submetida a intervenções cirúrgicas escolhia os períodos de férias. Nessa altura, os dois cancros eram diferentes deste último e «os alunos deram-me uma força imensa». A situação, agora, é outra. «Este cancro, na língua, afectou-me a boca», conta. Em 2 de Agosto do ano passado, uma Junta Médica deu-lhe a incapacidade. No entanto, a decisão viria a ser alterada, em Janeiro, por um responsável que numa lacónica justificação escreveu: «Altero a decisão da junta, (porque) claramente houve um engano no preenchimento dos autos». Maria da Conceição Marques pediu uma revisão da decisão, mas tudo o que conseguiu foi uma nova Junta Médica em que apenas teve tempo para entregar os relatórios médicos que possuía.
Vencer o cancro, mas não as juntas
«Tenho conseguido vencer os cancros que me vão aparecendo, mas não consigo vencer as juntas médicas», diz, angustiada, Maria da Conceição Marques. Recorda que «sempre fui uma pessoa alegre, mas já me começo a sentir cansada e apetece-me desistir, mas não o vou fazer, apesar de ter medo do que esta gente me vai fazer». «Querem vencer-me pelo cansaço, mas enquanto tiver forças vou lutar», garante. A docente «gostava de estar cara a cara com o Primeiro-Ministro, José Sócrates, para lhe perguntar «o que ele já teria feito se isto se passasse com a mãe dele». «Eu também sou mãe de alguém…», desabafa. A única certeza que tem neste momento é que vai continuar a lutar contra o cancro e contra o Estado português, no tribunal, se for necessário." in Diário de Aveiro
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